quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Seria a ciência uma superação da filosofia e da religião?

‎ ‎ Uma coisa que prova que Comte estava errado quando imaginava que o pensamento mítico-religioso teria sido superado pelo pensamento filosófico e que este, por sua vez, estava em vias de ser superado pelo pensamento científico é o próprio estado da ciência atual, particularmente o da astrofísica mais remota. Uma matéria recente dizia que uma explicação possível para o problema da matéria e da antimatéria na gênese do universo seria a existência de um "contra-universo" constituído principalmente por antimatéria em que a progressão do tempo é invertida, isto é, os eventos ocorrem do futuro para o passado. Só alguém inspirado por uma fé verdadeiramente religiosa poderia acreditar, mesmo que apenas remotamente, em tamanho absurdo, e as outras teorias e hipóteses desta astrofísica mais remota não ficam muito para trás. O que temos aqui, percebam, é uma espécie de oráculo pós-moderno, uma situação em que a própria ciência - ou algo que se passa por ela - fica encarregada de nos revelar a nós, meros mortais, ideias e conceitos que outrora seriam divulgados por instituições e personalidades religiosas, mas que têm o mesmo caráter, cumprem a mesma função e são igualmente intangíveis e incomprováveis. A ciência burguesa, sendo a instituição de maior respeitabilidade e credibilidade no nosso mundo atual, naturalmente toma para si aquilo que, dito de outro modo por línguas religiosas, já não é mais credível, e como essa mesma ciência é inquestionável, porque é objetiva, absoluta, seus especialistas são dignos de toda confiança porque carregam o selo da verdade celeste, sendo autênticos telefones do além, o que acontece é, finalmente, uma pseudomorfose do fenômeno religioso, uma religiosidade travestida, que se engana a si mesma e aos seus crentes, mas que existe e que continuará a existir justamente porque o ser humano é fundamentalmente carente de uma relação com o transcendente, e esta é uma característica intrínseca da própria condição humana, que sempre se manifestou e se fará manifestar ao longo da história. (Ivan Preuss)

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