No que tange à filosofia no sentido mais geral, uma das problemáticas mais interessantes que nós podemos apreciar é a contradição existente entre a ideia de um comportamento ou conjunto de ações resultantes do livre-arbítrio e a necessidade aparente da causalidade no universo, isto é, a contradição que existe entre a necessidade de que as ações sejam causalmente determinadas e a liberdade que temos de tomar nossas próprias decisões. A possibilidade desta contradição já era concebida no mundo antigo: os estoicos acreditavam que o universo era regido por uma causalidade tão férrea que tudo se repetiria infinitamente, incluindo a redação deste artigo, que eu faço agora, e a leitura dele, que você, leitor, agora empreende, estando tudo que existirá, existe e jamais existiu sujeito a um eterno ciclo de geração e corrupção infindáveis. No entanto, acreditavam também no livre-arbítrio... Como conciliavam estas duas coisas? Eis aí uma questão para a qual a perda da maior parte do legado literário da Antiguidade nos priva de uma resposta definitiva. O que sabemos, entretanto, é que a ideia do livre-arbítrio é usada muitas vezes para justificar a responsabilidade moral de alguém por suas ações, mesmo desconsiderando como fatores externos podem tê-lo compelido a agir de uma determinada forma.
Considerando, então, que a causalidade é um fato necessário do mundo humano, e que, tendo nós a capacidade de escolher as nossas ações, tal capacidade é, não obstante, derivada causalmente do mundo exterior (porque o homem é menor do que o todo), não podemos falar, por conseguinte, de um livre-arbítrio em sentido estrito, mas, sim, de uma autonomia do agir do sábio e, particularmente, do filósofo. O que quero dizer é que, trazendo em si mesmos sempre a semente da dúvida e da indagação filosófica, o sábio e, mais especificamente, o filósofo, sempre cuidarão de meditar na justeza de suas ações, considerando pormenores, possibilidades diversas etc. e, assim, possuem uma autonomia de escolha que é análoga ao que poderíamos chamar de um livre-arbítrio. (Ivan Preuss)
sábado, 30 de novembro de 2024
O livre-arbítrio e a autonomia do filósofo
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário