Quando entendidos em um sentido pessoal, a filosofia ou o espírito filosófico são uma busca, não casual, fortuita ou acidental, mas metódica e até mesmo programática da verdade e da sabedoria, mas, antes de tudo, a filosofia é, também, uma busca da purificação da própria experiência, uma eterna procura e descoberta de um livramento dos males deste mundo, não como simples remédio ou suporte moral, necessário nas adversidades como um macaco na hora de trocar um pneu, mas como uma tentativa de superação das próprias limitações da condição humana. O filósofo, tendo os seus olhos voltados costumeiramente para o céu, sempre tendeu a considerar que os problemas humanos estavam, de certa forma, abaixo de sua consideração - não totalmente, porque se assim fosse a ética não teria vindo a ser, mas parcialmente, quero dizer, o filósofo não raramente teria se considerado imperturbável diante de simples querelas, intrigas, picuinhas e, até mesmo, do sofrimento humano de uma forma mais geral. Para estes e outros problemas tinha sempre uma mesma solução: olhar para as estrelas, considerar a infinidade e a vastidão do cosmos, a pequeneza da condição e da duração da vida humanas, a inferioridade do homem em relação a Deus etc. Afinal, os problemas humanos parecem pequenos quando consideramos a dimensão titânica do todo real.
Uma das maneiras como os filósofos empreendiam isto era através da assimilação do eu individual, isto é, do mundo psíquico interior, com o universo ou ideia do universo enquanto infinidade exterior, isto é, com o mundo exterior que não é, simplesmente, exterior e alheio, porque contém também o mundo interior, mas é exterior e interior ao mesmo tempo, ou seja, é infinito justamente porque não conhece limites nem exteriormente nem interiormente. É a Unio Mystica com o divino; nas filosofias de Plotino e de Fílão de Alexandria, é o êxtase da união epifânica com Deus, propiciado depois de anos de árduos estudos e de muita meditação e contemplação da beleza universal. Este elemento ético-religioso da tradição filosófica é um dos mais fundamentais e antigos, remontando aos tempos de Empédocles e Pitágoras, e para muitos filósofos foi a base de toda ética e de toda religiosidade. (Ivan Preuss)
domingo, 1 de dezembro de 2024
A busca da purificação na filosofia
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