Malgrado um certo descrédito em que parece ter caído o feminismo em anos recentes - cuja causa é, fundamentalmente, o avanço cada vez mais palpável da direita e da extrema-direita -, o maior inimigo do feminismo em nossos dias são, a bem da verdade, as próprias mulheres que se identificam como feministas e que, antes de tudo, procuram travar a guerra dos sexos ao invés de efetivamente levar a cabo uma luta pela justiça social que inclua as reivindicações e preocupações de todos. Nenhum outro caso poderia ser mais emblemático e melhor exemplo desta atitude do que a reação de muitas mulheres da internet à descoberta dos "incels", que, lhes provendo uma perfeita demonstração - a mais concludente possível - da importância e significação da mulher para o homem, para o seu desenvolvimento pessoal e emocional e, por conseguinte, da sua importância para a própria sociedade, pelo menos no que diz respeito ao efeito benéfico que tende a produzir nos homens com que entra em contato (haja vista o precaríssimo estado em que se encontram aqueles que com elas não têm contato), se deixaram levar por aquilo que o ser humano tem de pior, respondendo ao ressentimento com mais ressentimento. Com efeito, a prova mais clara de que, psicologicamente, o ressentimento se encontra em ação é a destaca propensão, visível de longe, a enxergar as coisas de um modo negativo antes que positivo, reagindo com hostilidade (e nisso diferindo da melancolia e da depressão, que também promovem no indivíduo uma visão negativa das coisas, mas que substituem a tristeza à agressividade).
E vejam como não foi pequena a oportunidade que se deixou passar! O primeiro relacionamento é, provavelmente, um dos momentos mais determinantes na formação do caráter do homem adulto por que há de passar o moço adolescente, para o bem ou para o mal. Creio que o mesmo não possa ser dito em relação às mulheres, que devem sofrer uma influência benéfica menor (se realmente a sofrem) em sua relação com o homem do que o homem em sua relação com a mulher. É que, no homem, o contato com o feminino força-o a submeter-se, a controlar-se, a aprender a fazer concessões e a conhecer o tempo feminino, de uma maneira que, inversamente, ocorre só em menor intensidade com a mulher (quer dizer, a descoberta dos limites e das necessidades do sexo oposto), haja vista a natureza inerente dos sexos em que o homem é a parte mais impulsiva, abrupta, e também a mais desejosa do contato com o sexo oposto. O relacionamento bem-sucedido transforma o homem num estoico, já a mulher conserva melhor as suas características psicológicas de solteira. Ambos, no entanto, vedado o contato com o outro, tendem a cair no neuroticismo.
Tudo isso vai descambar no fato de que o convívio real, a plena existência conjunta para além do âmbito virtual, é o que favorece a sociabilidade e o desenvolvimento emocional. Por razões não de todo esclarecidas, a internet favorece as reações negativas, as emoções violentas, o julgamento, a perseguição. Promove antes uma dessocialização do que, no todo, uma socialização verdadeira. Os chamados "incels" são já o primeiro sintoma disto, quer dizer, de um quadro em que uma pseudo-socialização se sobrepõe à socialização verdadeira, e a tendência é o mal se alastrar... (Ivan Preuss).
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